Sinestesia | Figura de linguagem e exemplos

A sinestesia é uma figura de linguagem que associa percepções de dois ou mais sentidos do corpo humano — paladar, olfato, audição, tato ou visão.

Ela cria expressões como “som doce” ou “luz áspera”, atribuindo a experiência sensorial de um sentido a sensações típicas de outro.

Sinestesia: exemplos
  • “Era um som feito luz” (Cristais, soneto por Cruz e Sousa)

Não se vê som, nem se ouve luz. No verso, o poeta quer dizer que o som é tão claro e intenso que parece iluminar.

  • “Lá fora, na terra inóspita, um frio coiote uiva” (Balada de Hollis Brown, canção por Bob Dylan)

“Frio” (tato) descreve o coiote, mas não sua temperatura real. O adjetivo só reforça o clima gelado e desolado da cena, acentuando a solidão do uivo.

Ao fundir impressões de sentidos diferentes, a sinestesia cria um “choque sensorial” que amplia o significado e a emoção do texto.

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O que é a sinestesia?

A sinestesia é uma figura de linguagem que entrelaça diferentes sensações, unindo percepções de sentidos distintos.

Como recurso literário, ela faz com que cores “ressoem”, aromas “ganhem sabor” e sons se tornem “macios”, criando uma imagem sensorial única e ampliada.

Exemplo de sinestesia
  • Doce silêncio.

O adjetivo “doce”, ligado ao paladar, descreve o “silêncio”, que pertence à audição. Como o silêncio não tem sabor, não se deve entender a expressão literalmente.

A expressão mistura os sentidos para sugerir que o silêncio é tão agradável e acolhedor quanto algo doce ao paladar.

A sinestesia se destaca por tornar a linguagem mais vívida, envolvente e até poética.

Que tipo de figura de linguagem é a sinestesia?

A sinestesia é um tipo de figura de palavra ou figura semântica. Isso quer dizer que ela atua sobre o significado das palavras, criando novas associações e sentidos figurados.

A metonímia, a metáfora e a comparação também costumam ser classificadas como figuras de palavra pelos principais manuais da língua portuguesa.

Apesar de terem diferentes funções, é comum que figuras de linguagem se relacionem.

Sinestesia e outras figuras de palavra
Figura O que faz Exemplo Observação
Sinestesia Mistura dois ou mais sentidos na mesma imagem sensorial. O perfume doce acariciava o silêncio da noite. Junta olfato (perfume), paladar (doce) e tato (acariciar).
Metáfora Substitui uma coisa por outra com base em semelhança implícita. Sua voz era mel. Usa paladar (mel) para representar a “doçura” da voz.
Metonímia Troca uma palavra por outra com base em relação de proximidade. Respirei o campo naquela fragrância. Usa “campo” para substituir o cheiro das plantas (parte pelo todo).
Comparação Relaciona dois elementos com conectivos, como “como” ou “feito”. Sua voz era como mel. Usa paladar (mel) para comparar com a “doçura” da voz.

Além das figuras de palavra ou semânticas, há também:

  • Figuras de som ou harmonia, como aliteração e onomatopeia.
  • Figuras de pensamento, como paradoxo e ironia.
  • Figuras de construção ou sintaxe, como elipse e pleonasmo.

Cada uma atua de um jeito, mas todas tornam a linguagem mais expressiva.

Nota
Nem toda frase sensorial é sinestesia. Para ser, é preciso misturar pelo menos dois sentidos diferentes. Expressões como “cheiro forte”, “som estridente” ou “luz fraca” envolvem apenas um sentido — por isso, não são sinestesia.

“Forte” e “fraca” expressam grau ou intensidade, enquanto “estridente” indica uma qualidade sonora. Nenhuma delas representa uma mistura de sentidos.

Exemplos de sinestesia

Embora marcante na poesia, a sinestesia enriquece outros gêneros literários, é explorada na publicidade e surge na linguagem coloquial por meio de expressões populares.

Como toda figura retórica, não deve ser interpretada de forma literal.

Sinestesia: exemplos
  • O perfume aveludado tomou conta da sala.

Neste caso, a sinestesia é “perfume aveludado”: ao cheiro do perfume (olfato) atribui-se a sensação tátil de ser aveludado.

  • Era um dia quente, de um amarelo pálido.

A temperatura (“quente”) e a cor (“amarelo pálido”) se combinam, fundindo tato e visão numa mesma imagem.

  • O aroma cor de chocolate do café.

Ao aroma (olfato) é atribuído um tom visual (“cor de chocolate”), unindo cheiro e cor.

  • A voz dele estava áspera por causa do cigarro.

O tipo de voz (audição) recebe a qualidade tátil de ser “áspera”.

  • As carícias dela eram uma melodia suave para mim.

“Carícias” (tato) ganham um atributo auditivo: “melodia suave”.

  • Cheira a vitória!

A “vitória” recebe a propriedade de ter cheiro (olfato), como se fosse palpável ao nariz.

  • Dava para ouvir o azul do mar.

O “azul” (visão) é apresentado como algo que se pode ouvir (audição).

  • Suas palavras frias feriram os pais.

Às “palavras” é atribuída a sensação tátil de frieza, reforçando o caráter distante ou cruel do discurso.

  • Um cheiro doce percorria a cozinha.

Ao “cheiro” (olfato) acrescenta-se um sabor (“doce”), misturando olfato e paladar.

  • Um sorriso caloroso iluminou a sala.

O adjetivo “caloroso”, ligado à sensação térmica (tato), descreve “sorriso”, algo que percebemos pela visão, sugerindo acolhimento intenso.

Sinestesia: do Simbolismo à MPB

No Brasil, a figura retórica da sinestesia ganhou força com o movimento literário do Simbolismo do fim do século XIX.

O Simbolismo, por sua vez, é caracterizado por usar símbolos e metáforas para expressar ideias e emoções de forma indireta.

Sinestesia e poetas do Simbolismo
  • “Nasce a manhã, a luz tem cheiro… / Oh, sonora audição colorida do aroma!” (Soneto do Aroma, Alphonsus de Guimaraens)

Visão + olfato + audição.

  • Harmonias da Cor e do Perfume…” (Antífona, Cruz e Sousa)

Audição (a “harmonia” musical) + visão + olfato.

Décadas depois, a sinestesia seguiu — e ainda segue — viva, atravessando a poesia e a prosa modernistas e ecoando nas letras da música popular brasileira.

Poetas e compositores recorreram à mistura de sentidos para tornar as imagens mais vivas e as emoções, mais intensas.

Sinestesia no Modernismo
“Vem da sala de linotipos a doce música mecânica.” (Poema do Jornal, Carlos Drummond de Andrade)

“Vejo ouvindo, ouço vendo.” (Aproximação do Terror, Murilo Mendes)

“Das moitas longínquas vinha um cheiro frio de mato molhado.” (Perto do Coração Selvagem, Clarice Lispector)

“No silêncio morno das coisas do meio-dia…” (Mormaço, Vinícius de Moraes)

Seja na poesia, na prosa ou na música, é perceptível como cheiros evocam memórias, cores traduzem sentimentos e sabores narram amores.

Sinestesia na MPB
“Assim que o teu cheiro forte e lento fez casa nos meus braços” (Daniel na Cova dos Leões, Legião Urbana)

“Assenta a sombra sonora de um disco voador” (Ouro de Tolo, Raul Seixas)

“Ai, ai, ai / Essa voz doce e serena” (Mulher Pequena, Erasmo Carlos e Roberto Carlos)

Tipos de sinestesia e exemplos

Não existe uma classificação única e universal para os tipos de sinestesia.

Com base nos sentidos envolvidos na combinação sinestésica, é possível organizar as expressões de acordo com os sentidos que elas entrelaçam.

  1. Visual-auditiva
  2. Auditivo-tátil
  3. Visual-gustativa
  4. Gustativo-olfativa
  5. Auditivo-gustativa
  6. Olfativo-tátil
  7. Auditivo-olfativo-visual

Visual-auditiva

Este tipo de sinestesia associa cores com sons.

Exemplos de sinestesia visual-auditiva
A risada clara iluminava o ambiente.

O som sombrio ecoou pela floresta.

Auditivo-tátil

Esta sinestesia associa sons com sensações táteis.

Exemplos de sinestesia auditivo-tátil
O som áspero da sirene arranhava meus ouvidos.

A voz dela era macia como veludo.

Visual-gustativa

Esta sinestesia associa cores ou imagens com sabores.

Exemplos de sinestesia visual-gustativa
O sorvete de chiclete tinha gosto de nuvem colorida.

A vida era doce como o céu cor-de-rosa ao entardecer.

Gustativo-olfativa

Este tipo de sinestesia associa sabores com cheiros.

Exemplos de sinestesia gustativo-olfativa
Aquele cheiro doce parecia ter gosto de infância.

Havia um sabor mentolado no ar da tarde.

Auditivo-gustativa

Este tipo de sinestesia associa sons com sabores.

Exemplos de sinestesia auditivo-gustativa
Seu canto deixava um gosto doce na memória.

Era uma melodia agridoce, como lembrança de um amor que ficou para trás.

Olfativo-tátil

Este tipo de sinestesia associa cheiros com sensações que têm sua origem no tato.

Exemplos de sinestesia olfativo-tátil
O cheiro do café envolvia como um cobertor.

O perfume floral parecia acariciar minha pele.

Auditivo-olfativo-visual

Este tipo de sinestesia associa ao mesmo tempo sons, cheiros e cores ou imagens.

Exemplos de sinestesia auditivo-olfativo-visual
O som esverdeado da floresta tinha cheiro de terra molhada.

Uma melodia violeta com aroma de jasmim enchia o entardecer.

Sinestesia vs. Cinestesia

A palavra sinestesia vem do grego syn- (que significa “junto” ou “com”) e aisthēsis (que quer dizer “sensação”). Ou seja, sinestesia é literalmente a “união das sensações”.

cinestesia vem de uma raiz diferente: kinesis (movimento). A palavra se refere à percepção do próprio corpo em movimento, como quando você fecha os olhos e ainda assim consegue saber onde estão seus braços ou pernas.

Exemplos de sinestesia e cinestesia
O atleta confiava na memória cinestésica para acertar o salto no momento exato.

O poeta usava a sinestesia como ferramenta criativa, costurando em seus versos uma fusão de cores, sons, aromas e emoções.

Em resumo: enquanto a sinestesia mistura sentidos para criar efeitos expressivos, a cinestesia tem mais a ver com consciência corporal e coordenação.

Exercício: sinestesia nas figuras de linguagem


Perguntas frequentes sobre sinestesia

Em que consiste a sinestesia?

A sinestesia é uma figura de linguagem que associa sensações de diferentes sentidos.

Em outras palavras, na sinestesia, as impressões sensoriais de um sentido são associadas às sensações de outro. Por exemplo:

  • Perfumes verdes

A expressão combina percepções visuais e olfativas, criando um efeito sinestésico.

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Existem exemplos de sinestesia que façam parte da linguagem do dia a dia?

Expressões sinestésicas estão tão presentes em nosso dia a dia que já viraram expressões populares ou de uso comum.

Alguns exemplos clássicos de sinestesia no uso cotidiano são:

  • Cor quente / Cor fria
  • Luz quente / Luz fria
  • Cheiro amargo / Cheiro doce
  • Voz áspera / Voz doce

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Que tipos de sinestesia existem?

Não existe uma classificação única e universal para os tipos de sinestesia.

Com base nos sentidos envolvidos na combinação sinestésica, é possível organizar as expressões das seguintes formas:

  1. Visual-auditiva (“cores estridentes”, “luz barulhenta”)
  2. Auditivo-tátil (“som macio”, “voz áspera”)
  3. Visual-gustativa (“doce cor de uva”)
  4. Gustativo-olfativa (“cheiro doce”, “aroma amargo”)
  5. Auditivo-gustativa (“voz doce”, “tom amargo”)
  6. Olfativo-tátil (“aroma seco”, “odor cortante”)
  7. Auditivo-olfativo-visual (“melodia azulada e adocicada”)

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A sinestesia é empregada na poesia com frequência?

Sim, a sinestesia é uma figura de linguagem muito frequente na poesia e em outros textos literários.

No Brasil, a sinestesia ganhou força com o movimento literário do Simbolismo do fim do século XIX e permaneceu viva nas prosas e poesias do Modernismo.

Um exemplo é o soneto Cristais, do poeta simbolista Cruz e Sousa.

“Era um som feito luz, eram volatas*
Em lânguida espiral que iluminava,
Brancas sonoridades de cascatas
Tanta harmonia melancolizava.”

*Volatas são séries de notas executadas rapidamente.

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Nova, L. (15 de julho de 2025). Sinestesia | Figura de linguagem e exemplos. Quillbot. Retrieved 11 de agosto de 2025, from http://qbot.seotoolbuy.com/pt/blog/figuras-de-linguagem/sinestesia/

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Luana Nova, BA

Pós-graduada em storytelling com dados e bacharela em comunicação social. Especialista em design de conteúdo e linguagem simples. Atua em redação há 12 anos e faz pesquisa em web semântica.